sábado, 5 de março de 2011

Jefté ofereceu a sua filha em holocausto?


Em Juízes 11, a Palavra de Deus apresenta a história de Jefté, juiz corajoso e temente a Deus que levou o povo israelita a uma grande vitória sobre os seus inimigos. Antes da peleja com os filhos de Amom, Jefté fez um voto de sacrificar em holocausto — “... oferta queimada por inteiro” (Dicionário Vine, CPAD, p. 203) — ao Senhor aquilo (ou “quem”) que lhe saísse ao encontro, quando retornasse vitorioso.

Para sua surpresa, sua própria filha o recepcionou com alegria, deixando-o extremamente frustrado. É aqui que começa o problema teológico, gerando uma verdadeira “guerra santa” entre os teólogos. Afinal, Jefté ofereceu ou não a sua filha em holocausto?

São muitas as conjeturas teológicas sobre essa passagem, mas as principais são duas: Jefté conhecia a lei que proibia o sacrifício humano (cf. Lv 18.21; Dt 12.31) e, por isso, não sacrificou sua filha. Ele teria entregado a jovem ao serviço Senhor, tal como o foi Samuel (cf. 1 Sm 1.24).
A moça, portanto, teria sido oferecida em sacrifício vivo, devendo permanecer virgem até à morte, conforme se infere de Juízes 11.37-39. Mas tudo isso é suposição! Nada disso está escrito na narrativa bíblica.

O que, de fato, dizem as Escrituras? É preciso ler com atenção:

1) “E Jefté votou um voto ao Senhor, e disse: Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo [ou aquele] que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro (...) isso será do Senhor, e o oferecerei em holocausto” (Jz 11.30,31). Qual foi o voto de Jeftá? “... oferecerei em holocausto”.

2) “Vindo, pois, Jefté a Mizpá (...) eis que a sua filha lhe saiu ao encontro (...) E aconteceu que, quando a viu, rasgou os seus vestidos, e disse: Ah! filha minha, muito me abateste (...) porque eu abri a minha boca ao Senhor, e não tornarei atrás” (Jz 11.34,35). Jefté estava disposto a voltar atrás no que votara? Não! Disse: “... não tornarei atrás”.

3) “E ela disse: Pai meu, abriste tu a tua boca ao Senhor; faze de mim como saiu da tua boca...” (Jz 11.36). A filha de Jeftá estava disposta a ser oferecida em holocausto? Sim: “... faze de mim como saiu da tua boca”. 

4) “Disse mais ela a seu pai: Faça-se-me isto: deixa-me por dois meses que vá, e desça pelos montes, e chore a minha virgindade (...) então foi-se ela com as suas companheiras, e chorou a sua virgindade pelos montes” (Jz 11.37,38).Por que a moça choraria tanto tempo, se não acreditasse que o voto seria cumprido do modo como fora feito?

5) “E sucedeu que, ao fim de dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu nela o seu voto que tinha votado; e ela não conheceu varão...” (Jz 11.39). Que voto Jefté cumpriu? “... o voto que tinha votado”. Ou seja, oferta inteiramente queimada.

6) “... E daqui veio o costume em Israel, que as filhas de Israel iam de ano em ano a lamentar a filha de Jefté, o gileadita, por quatro dias no ano” (Jz 11.39,40). O cumprimento do voto de Jefté causou grande comoção entre as jovens israelitas, a ponto de levá-las a lamentar o episódio quatro vezes no ano... Por que lamentariam tanto, se a moça não tivesse morrido?

Essa passagem fica ainda mais compreensível na versão Almeida Revista e Atualizada (ARA): “Daqui veio o costume em Israel, de as filhas de Israel saírem por quatro dias de ano em ano cantar em memória da filha de Jefté, o gileadita”. Você já viu alguém cantar em memória de quem está vivo? Portanto, a polêmica em torno dessa passagem é teológica, e não bíblica. A Bíblia é categórica quanto a esse assunto. Porém, algo que deve ficar muito claro é que Deus jamais aceitaria sacrifícios humanos. Jefté ofereceu a sua filha em holocausto porque ele quis, e não porque o Senhor o aceitasse como condição para abençoar o seu povo.


Fonte: Blog do Ciro

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